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Crise amplia tempo de procura por emprego

O freio imposto pela economia fraca à geração de empregos prolonga a dura procura por vaga do vendedor Luan Fialho Fernandes, de 21 anos. A despeito da fluência no inglês e do domínio de programas de computador, o estudante do curso superior de design busca, sem sucesso, há sete meses, se recolocar no balcão ou nos departamentos administrativos de empresas de Belo Horizonte e Contagem, na Grande BH. Desde agosto de 2014, a única oportunidade, no entanto, foi uma vaga temporária no comércio, em dezembro. A rotina de procurar trabalho exige mais de candidatos como Luan, que já não encontram a chance tão aguardada com a facilidade dos últimos anos de redução constante do número de desempregados no Brasil. Na Grande BH, o tempo de procura por emprego no ano passado era, em média, de até 30 dias para 35,6% dos desocupados, universo bem modesto quando comparado aos 59% que eles representavam do total de desocupados em 2008.

Mais da metade dos desempregados (51%) – que, na média de 2014, somavam um grupo de 98 mil pessoas na Região Metropolitana de Belo Horizonte – estão em busca de emprego entre 31 dias e seis meses, quando sete anos atrás essa era a realidade para 32,8%. Aumentou também a proporção de quem luta para voltar ao mercado de trabalho há mais de sete meses, o temido desemprego de média e longa duração, no conceito dos especialistas. Eles representavam 13,3% dos desempregados no ano passado, perante 8,2% em 2008.

Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apurou uma preocupante marcha a ré do emprego no balanço de 2014. O universo de pessoas que estavam trabalhando na Grande BH diminuiu para 2,527 milhões, 45 mil a menos na comparação com o contingente de 2013 (2,572 milhões). A mudança do perfil do tempo de procura reflete a perda de vigor do mercado de trabalho, depois de seguidos anos de dinamismo até 2010, acompanhado do crescimento da renda do trabalho, observa o analista da regional mineira do IBGE Antonio Braz de Oliveira e Silva.

“O mercado de trabalho está claramente num momento de inflexão e não há indicações de que será diferente daqui para frente, num cenário de desaquecimento no comércio, na indústria e nos setor de serviços, que contratou muito até 2010”, afirma Braz. O agravamento do tempo de procura em 2014 pode ter passado desapercebido, em razão das baixas taxas de desemprego, de 4,7% no Brasil e 3,7% na Grande BH. Os dois índices foram os menores da série histórica do IBGE.

Desilusão Parte da explicação está no grupo de pessoas desiludidas na procura por trabalho e que, na estatística, passaram a engrossar a população dos inativos, deixando de pressionar o desemprego. Se é verdade que boa parte dos jovens pôde parar de trabalhar e se dedicar aos estudos nos últimos anos, amparados pelo crescimento da renda no país, também é fato que no ano passado houve um movimento de saída do mercado por desilusão com a economia desaquecida. De acordo com o IBGE, cresceu 3,7% de 2013 para 2014 o número de inativos, quando 686 mil pessoas deixaram de pressionar o mercado de trabalho.

Na corrida às agências de emprego, o esforço de quem quer voltar a trabalhar é redobrado. “Até mesmo para o trabalho freelancer está difícil”, desabafa o vendedor Luan Fialho Fernandes. O professor da escola de negócios e administração Ibmec João Bonomo alerta que a tendência é de deterioração dos indicadores do emprego nos próximos meses. A alta dos juros anunciada na quarta-feira pelo Banco Central e a inflação corroem a renda das famílias, prejudicando o consumo, ciclo que deve sacrificar as vendas do comércio e na indústria. A expectativa é de que o nível do emprego seja, também, afetado.

“Se o cenário permanecer assim, a tendência é de piora na geração de vagas, mas não será uma catástrofe, por causa dos bons índices no mercado de trabalho que tivemos nos últimos anos”, afirma. Bonomo destaca, entretanto, que a mudança no tempo de procura é paulatina, não ocorre de um momento para outro. Um dos setores em que essa alteração tem sido mais perceptível é a indústria.

O setor fechou o ano passado com um saldo de quase 35 mil demitidos a mais que os contratados em Minas Gerais. A construção civil foi a que mais contribuiu, com corte superior a 21 mil vagas. Os segmentos da metalurgia e de produção de automóveis perderam quase 10 mil colocações, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego. Para o economista Paulo Roberto Santos Casaca, da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), 2015 será mais um ano de queda do emprego nas fábricas se o país continuar crescendo pouco ou a economia ficar no vermelho. “A indústria reduziu bastante o número de postos de trabalho em Minas e no restante do país. O problema é grave e precisa de uma solução rápida”, afirma. Casaca ressalta que, geralmente, o mercado de trabalho é o último da cadeia a sentir os efeitos da crise.

Palavra de especialista

Hegel Botinha
diretor comercial do grupo Selpe

Oportunidade para os bons

“Vivemos num mercado que vem perdendo robutez no último ano, fruto de uma economia cada vez menos dinâmica. A oferta de vagas tem caído e as empresas optam por aproveitar o momento para avaliar seus quadros e sua estrutura em busca de mais eficiência, congelando investimentos. Além dos problemas externos, os ajustes na economia doméstica que não foram feitos e as crises hídrica e de energia constituem combustível para queda da confiança dos investidores. Independentemente disso, há oportunidades para os bons profissionais. Quem abusou do seguro-desemprego e ficou acomodado é que será mais afetado com o fechamento de postos de trabalho a um ritmo superior ao da criação de vagas.”

Situação rebaixa salários

Para driblar as dificuldades de uma recolocação no mercado de trabalho, alguns profissionais já começam a aceitar propostas de salário menores do que aqueles recebidos em empregos anteriores. O vendedor e auxiliar de escritório Luan Fialho Fernandes decidiu baixar a pretensão salarial de R$ 1,6 mil para R$ 1,2 mil, na tentativa de aumentar as chances de conseguir trabalho. Ainda assim, encontra problemas. Ele conta que, desde que ingressou no mercado de trabalho, nunca ficou tanto tempo desempregado.

Luan trabalhou pela última vez em dezembro, mas com contrato temporário, numa loja de shopping center às vésperas do Natal. Depois disso, distribui currículos pessoalmente e por e-mail, mas ainda espera por uma oportunidade. “Em todas as empresas que visito, a informação é de enxugamento de vagas. O serviço que era feito por duas ou três pessoas agora é realizado por apenas um profissional”, ressalta. Apesar de morar com os pais e não ter de arcar com despesas fixas com aluguel, luz e água, ele afirma que a renda do trabalho faz falta para custear os gastos na faculdade.

Uma alternativa sugerida pelo professor do Ibmec João Bonomo aos candidatos à procura de emprego é o investimento em qualificações adicionais. “As pessoas não devem se deixar abater, mas sim fortalecer o currículo para conseguir uma colocação melhor”, afirma. Para ele, as áreas de tecnologia e telecomunicações são as que, hoje, têm demandado maior número de profissionais no mercado.

Quando pediu demissão na empresa em que trabalhava no início deste ano, o auxiliar de escritório Leonardo Assereui, de 19 anos, não imaginava que fosse tão difícil conseguir outra colocação. Há quase três meses ele distribui currículos em agências e vários pontos de comércio no Centro de BH e em outras regiões, mas não foi chamado. “Está difícil. Em todos os lugares, as empresas informam que não estão contratando, mas sim fazendo redução de pessoal”, lamenta.

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